Humano

Falando com os pássaros ontem

Andei perguntando

Um pouco sobre isso

De estar perto dos anjos e não ser anjo

Eles riram de mim

Disseram-me que somos todos anjos

Que nada podia haver de mais celestial que um homem 

Inteiramente humano

Eles me disseram

Que esse era o sacrifício

De estarmos perdidos no mundo

Completamente sozinhos

Sem saber como começou

Que dia acaba

Torcendo pra não queremos que acabe mais cedo

Para que o fardo não se torne demasiado insuportável

Esses são os pássaros

Completamente loucos

Completamente lúcidos

Me disseram que somos todos celestiais

Em nossas músicas

Nossas canções

Nossa alegria momentânea

A despeito do medo

Da dor

Do desejo de querer transpor o medo

Para que tudo não se torne demasiadamente suportável

Sing

Vou cantar

até que asas surjam de meus ombros

Vou cantar

até que meus saiam do chão

até que esse mormaço desapareça

até que possa transpirar fundo

sentindo o ar úmido

vou cantar

dias e dias

não vou parar

até que já não saber quem sou

vou cantar pra me esquecer de mim

Tanto tempo

Faz tanto tempo

Já não escrevia

Já não sei bem

Colocar minhas palavras

Fazer o melhor que posso

Mesmo sendo pouco

Esse sou eu

De noite

Não é tão ruim assim

O ano vai correndo

Faz tanto tempo

Seguro minha cabeça

Apenas pense sobre isso

Vou me esquecendo

Perdendo minhas palavras

Saí por uma porta

Tento fazer o melhor que posso

Intenções boas

Medos grandes

Pequenas esperanças

Esse não sou eu

Eu por inteiro

Não é que queira reclamar
Não me é permitido
Não é que queira dizer que as coisas não vão bem
Elas vão...
Mas as vezes, as vezes em um suspiro mais fundo
Levanto a cabeça procurando um pouco de ar
De paz, de atenção
Não é que eu queira que alguém me olhe, me veja, me enxergue...
Não é isso!
Parece loucura mas sinto falta de mim
Das minhas tardes, dos meus textos
Da minha paz
Ser eu sem medo, eu por inteiro
Sem paranoia, sem desespero